OMS suspende o uso da cloroquina e hidroxicloroquina em testes contra a Covid-19
Em entrevista coletiva nesta segunda feira, 25, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a interrupção do uso da cloroquina e hidroxicloroquina em testes para tratamento contra a Covid-19. O motivo é um estudo publicado pela revista científica Lancet, que envolveu mais de 96 mil pessoas e mostrou que não só não há benefícios no uso desse medicamentos contra o vírus SARS-CoV-2, como há um risco aumentado de morte para os pacientes.
A cloroquina era uma das substâncias consideradas promissoras para o tratamento da doença pelo novo coronavírus, por isso entrou no projeto SOLIDARITY da OMS, em março deste ano, um estudo colaborativo mundial para avaliar a ação das principais drogas no tratamento da Covid-19.
Segundo o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a interrupção vai acontecer enquanto o Conselho de Monitoramento de Segurança de Dados, do Grupo Executivo do estudo SOLIDARITY, analisa os dados disponíveis sobre benefícios e malefícios da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19. Apesar disso, Tedros reforçou que o uso desses medicamentos em doenças autoimunes e contra a malária é seguro e eficaz, não devendo haver suspensão para esses pacientes.
Enquanto isso, os testes com os outros medicamentos do estudo mundial continuarão. São eles: o remdesivir, que é o medicamento usado contra o ebola; a combinação de lopinavir e ritonavir, usado no coquetel contra o HIV; e o interferon-beta, uma molécula que, em testes anteriores, demonstrou efeito em macacos da espécie saguis infectados pela síndrome respiratória do Oriente Médio (Middle East respiratory syndrome – MERS).
Hidroxicloroquina e cloroquina contra a Covid-19
O estudo levado em consideração para a suspensão dos testes é uma análise multinacional, envolvendo mais de 670 hospitais em seis continentes, do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina com ou sem um macrolídeo em pacientes hospitalizados por Covid-19 de dezembro de 2019 a abril deste ano.
Dos mais de 96 mil pacientes, com idade média 53,8 anos, 14.888 pacientes estavam nos grupos de tratamento e 81.144 pacientes estavam no grupo controle. O resultado apresentado é que todos os grupos que receberam os medicamentos tiveram um risco maior de mortalidade quando comparados ao grupo controle. Além disso, o risco de arritmias ventriculares também foi maior nesses pacientes.
Este foi o maior estudo realizado até o momento com os fármacos contra o SARS-CoV-2, porém estudos anteriores também não mostraram benefícios, como um estudo chinês multicêntrico, randomizado e aberto. Neste estudo, as análises não mostraram benefício da adição de hidroxicloroquina na negativação de PCR nos subgrupos estratificados por idade, IMC, presença ou ausência de comorbidades, dias entre o início dos sintomas e randomização, valor inicial de PCR, valor inicial de linfócitos e uso ou não de agentes antivirais potenciais durante o período de estudo.
Cloroquina no Brasil
A suspensão da OMS vem menos de uma semana depois de o Ministério da Saúde do Brasil alterar o protocolo de tratamento da Covid-19, incluindo a cloroquina e hidroxicloroquina também para casos leves e moderados. Antes, os medicamentos estavam liberados apenas para uso em pacientes graves.
Antes mesmo da liberação do novo protocolo, associações médicas do país se manifestaram contra o uso dos medicamentos na doença, devido à falta de evidências de benefícios e os potenciais efeitos colaterais graves dos mesmos.
Até o momento, o Ministério e o Governo Federal não se manifestaram sobre a nova posição da OMS.
Referências bibliográficas:
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