Bolsonaro fala em reabrir escolas após OMS citar estudo inconclusivo que lança dúvidas sobre transmissão assintomática
Em reunião ministerial transmitida ao vivo, presidente também questionou a entidade e voltou a defender uso da hidroxicloroquina
O presidente Jair Bolsonaro abriu a reunião ministerial desta terça-feira lamentando as mortes provocadas pelo novo coronavírus e criticando a Organização Mundial da Saúde (OMS). No discurso, Bolsonaro reconheceu que não há comprovações científicas sobre o uso da hidroxicloroquina para tratar a doença, mas voltou a defender o uso do medicamento em pacientes diagnosticados com Covid-19 e disse, ainda, que pode reabrir escolas e o comércio após a menção por uma diretora da entidade a um estudo que definiu transmissões assintomáticas como “raras”.
— A OMS, nas últimas semanas, tem tido algumas posições antagônicas, a penúltima sobre a hidroxicloroquina. Foi determinada a suspensão da pesquisa, depois voltou atrás. As pesquisas continuam no Brasil, não temos a comprovação científica ainda, mas relatos de pessoas infectadas e de médicos, em grande parte, têm sido favorável à hidroxicloroquina com azitromicina — disse o presidente.
Bolsonaro fez referência à retomada de estudos da OMS com o medicamento, que haviam sido suspensos após um estudo amplo publicado pela revista científica The Lancet que, posteriormente, teve sua metodologia questionada por outros cientistas. A pesquisa teve forte repercussão pela sua amplitude — quase 100 mil pacientes envolvidos —, mas vários outros trabalhos científicos que apontam não apenas para a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina contra o coronavírus como, também, o aumento de risco de morte em pacientes em quadro grave.
O presidente também citou a informação divulgada pela OMS de que a transmissão do coronavírus por pacientes assintomáticos é rara.
— Foi noticiado ontem, também de forma não comprovada ainda, como nada é comprovado na questão do coronavírus, que a transmissão por parte de assintomáticos é praticamente zero. Então, isso vai dar muito debate. Muitas lições serão tomadas. Com toda certeza isso pode ser analisada uma abertura mais rápida do comércio e extinção daquelas medidas restritivas adotadas segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos.
Os comentários sobre um estudo de caso de Cingapura foram feitos por Maria Van Kerkhove, chefe da unidade de doenças emergentes da OMS. As declarações, no entanto, foram rebatidas por epidemiologistas de vários países. Além de outros estudos apontarem para a transmissibilidade do Sars-CoV-2 por pacientes assintomáticos, especialistas temem que a informação descontextualizada dê força aos governos que desejam flexibilizar o isolamento social antes da hora.
A partir das declarações de Maria Van Kerkhove, Bolsonaro afirmou que, agora, pode haver menos resistência à volta das atividades escolares. Essa é a primeira reunião ministerial de Bolsonaro transmitida ao vivo. O novo formato ocorreu após divulgação do vídeo da reunião de 22 de abril por determinação do STF.
Chanceler reforça crítica
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, aproveitou para endossar a fala do presidente contra a OMS. O chanceler questionou os procedimentos adotados pela instituição internacional e afirmou que o Itamaraty acompanha com “muita preocupação” o trabalho da agência. E afirmou que o Brasil defendeu junto a países membros a reformulação da OMS.
— O Itamaraty, sempre em coordenação com o Ministério da Saúde, acompanha o papel da OMS com muita preocupação. Falta de independência da OMS, aparentemente, falta de transparência e coerência, sobretudo. Falta de coerência no posicionamento, na orientação sobre aspectos essenciais — afirmou Araújo. — A origem do vírus, o compartilhamento de amostras, o contágio por humanos, nos modos de prevenção, na quarentena, no uso da hidroxicloroquina, na indumentária de proteção e agora na intransmissibilidade por assintomáticos. Em todos esses aspectos a OMS foi e voltou, às vezes mais de uma vez. Isso nos causa preocupação.
O ministro criticou também o que chamou de “vai e vem” da OMS e disse que isso atrapalha o trabalho realizado pelos governos:
— O Brasil está propondo uma investigação, junto com um grupo de outros países, um processo de reforma da OMS. Estamos coordenando com Austrália, União Europeia e outros países para esse imprescindível exame do que aconteceu e do que está acontecendo com a OMS — disse, completando: — Cada dia é uma decisão, esse vai e vem da OMS prejudica os esforços de todos os países.
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