Fóssil de lagarto mais antigo da América do Sul é encontrado em João Pinheiro
Reconstituição in vivo do Neokotus sanfranciscanus. Seu primeiro nome vem do grego, significa “novo e estranho”, já o segundo faz referência ao local onde foi encontrado, a Bacia Sedimentar Sanfranciscana. Ao fundo da ilustração, um dinossauro carcharodontosaurídeo, cujos dentes foram encontrados no mesmo sítio fossilífero – Foto: Jorge Blanco
Descoberta é resultado de colaboração internacional entre pesquisadores do Brasil, Canadá e Estados Unidos
Um grupo de paleontólogos do Brasil, Canadá e Estados Unidos acaba de descobrir o fóssil do lagarto mais antigo já encontrado na América do Sul. A descoberta foi publicada no último dia 29 de abril em artigo na revista científica Communications Biology. A nova espécie foi encontrada na região da cidade de João Pinheiro (MG) e batizada de Neokotus sanfranciscanus.
Com aproximadamente 135 milhões de anos, ela é cerca de 20 milhões de anos mais antiga que os fósseis de lagarto até então conhecidos no continente. Isso indica que o grupo de répteis ao qual pertencem os lagartos e serpentes, chamado Squamata, esteve na região muito antes do que se pensava.
Como explica Tiago Simões, da Universidade de Harvard e um dos autores da pesquisa, a maioria das espécies de lagartos fósseis vem do Hemisfério Norte. “A maior parte dos lagartos fósseis da América do Sul foi descoberta no Brasil e nossos achados demonstram sua relevância para entender os padrões globais da evolução do grupo, bem como a origem e evolução das cerca de 2.000 espécies viventes de lagartos e serpentes sul-americanas.”
A nova espécie foi encontrada em uma área do norte de Minas Gerais rica em rochas do período Cretáceo (145-66 milhões de anos atrás). Essas rochas possuem significativa diversidade de fósseis, incluindo plantas, invertebrados, peixes dinossauros e agora lagartos, acrescenta Jonathas Bittencourt, ex-aluno da USP e hoje professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A área é muito importante do ponto de vista paleontológico, porque estava conectada ao continente africano até a metade do Cretáceo e pode ajudar a entender como os movimentos das massas continentais afetaram a evolução da biodiversidade sul-americana nos últimos 135 milhões de anos”, diz.
Em suas pesquisas de doutorado e pós-doutorado, Jonathas foi orientando do professor Max Langer, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, que também assina o artigo. Michael Wayne Caldwell, da Universidade de Alberta, no Canadá, completa a equipe de pesquisadores.
O parentesco do Neokotus sanfranciscanus foi desvendado com o estudo de espécies fósseis e viventes, combinando dados de anatomia e de sequenciamento de DNA. Características únicas da dentição do novo lagarto revelaram que ele faz parte da família Paramacellodidae, extinta há 66 milhões de anos e até então desconhecida na América do Sul.
Atualmente, a maioria das espécies de lagartos e cobras da América do Sul pertence a grupos endêmicos, ou seja, encontrados apenas nesse continente. Em contraste, a descoberta do Neokotus sanfranciscanus ajuda a demonstrar que os lagartos e serpentes do Cretáceo da América do Sul pertenceram a grupos amplamente distribuídos pelo globo. Desta forma, foi apenas após a extinção dos dinossauros, 66 milhões de anos atrás, que a separação da América do Sul dos demais continentes fez com que a fauna sul-americana de lagartos e cobras adquirisse suas características únicas. Um padrão muito parecido já era conhecido para os mamíferos do continente.
Com informações dos pesquisadores
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